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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Aprendendo a fazer concurso

O Brasil presencia um excessivo crescimento do número de pessoas dedicadas à disputa por um cargo público. Esse fenômeno sazonal, causado pela proibição legal de contratação no período eleitoral, bem assim pelo descuidado acúmulo de vagas na administração pública, que denuncia a desorganização administrativa com o surgimento de caos localizados, traz ao cenário pessoas não suficientemente informadas a respeito dos meandros da disputa por um cargo público efetivo.



Muitos desses candidatos são profissionais de alto gabarito, com sólida formação técnica, dispostos para o estudo, ou seja, aparentemente futuros servidores. Suas qualidades interessam à administração, que em troca dar-lhes-á a tão sonhada estabilidade, uma aposentadoria um pouco mais digna, e um bom ambiente de trabalho. Esbarram, no entretanto, esses atores do casamento perfeito, num inimigo desconhecido, um fator muito pouco considerado na disputa, e que tem sido a razão da desistência de muita gente: os marinheiros de primeira viagem não sabem fazer concurso, e quando, se persistirem, aprendem, já estão aprovados em alguns concursos, e somente aí se dão conta de quanto tempo perderam, e quanto esforço desperdiçaram. Mas aí, para eles, pouco vai importar, pois a hora será de comemoração.

É voz corrente dizer-se que o concurso é coisa para maratonistas, super-homens, e que disponham de muito tempo para os estudos. É o que ocorre quando o político sagaz espalha sorrateiramente a balela de que somente que tem milhões para gastar poderá ser eleito, afastando a concorrência que preocupa. No caso dos concursos, porém, o que ocorre não advém da astúcia, mas exatamente da desinformação. Quando o concurseiro ainda não aprovado intimida o seu colega com as informações aterrorizantes sobre “o sacrifício que é se preparar para um concurso”, exibe apenas a desinformação que assola a sofrida classe, enquanto busca justificar os seus resultados. 

Mas retomemos a linha inicial. Falávamos do concurseiro eventual. Aquele que, sendo formado em área que oferece poucas vagas e em concursos raros (farmácia, química, comunicação, psicologia, turismo, entre outras), acredita que o mais correto é se inscrever apenas na sua área, pois assim suas chances aumentam. 
Essa atitude traz uma discreta carga de vaidade, do medo de não passar, e lhe tira a oportunidade de aprender a fazer concurso, de adquirir a indispensável experiência. Engana-se quem acredita que “para passar, basta estudar”. Se assim fosse, notaríamos uma conta que não fecha, já que a quantidade de gente que estuda, e seriamente, é muito maior que a de aprovados. Ora, quem cumpre a regra quer o resultado, a recompensa prometida. Onde estaria esse erro, então? Seria tolice acreditarmos que quem estuda mais sempre aprende mais, já que sabemos que a técnica de estudo, o ambiente, a dosagem, o método de aferição periódica de aprendizagem, o “saber fazer prova”, em lugar de apenas saber a matéria, entre muitos outros fatores, interferem no proveito que se tira das horas dedicadas à preparação. E mais que isso, também é errado supor que quem aprende mais tira notas maiores, já que em seu desfavor contam o nervosismo, o “branco”, a escolha da vaga na cidade mais concorrida, o fato de não se observar que determinada matéria tinha o dobro do peso da outra, o desconhecimento de seus direitos básicos, quando se poderia recorrer ao judiciário etc. Isso pode ser aprendido em poucas horas. Os milhões de brasileiros que fazem concursos não têm idéia de quantos são reprovados diariamente por questões que não estão nas provas previstas no edital.

Há uma longa lista de fatores que recomenda ao candidato, se quer uma aprovação mais rápida, como é natural, que não se permita aprender com as didáticas quedas apenas, mas sim com a experiência alheia, encurtando o caminho. Tolo é quem pensa em aprender somente consigo mesmo. Não estamos pregando, evidentemente, ser tarefa fácil a aprovação nos concursos. Mas podemos garantir que não é o que se pinta. Muitos candidatos se surpreendem, por exemplo, ao saberem que alguns cargos interessantes são disputados por um ou dois candidatos apenas, em concursos poucos divulgados, já
que, sendo concurseiros eventuais, são atraídos somente pelos grandes, famosos e tradicionais concursos do INSS, PRF, Bacen, SRF, Tribunais Federais, CEF, Petrobrás etc, em que, com a ajuda da grande mídia, centenas de candidatos, muitos deles apenas números, disputam uma vaga. Também não é do conhecimento da maioria o fato de que, em muitos concursos dos quais candidatos com chances correm devido ao número de vagas, quando são anunciadas 3 ou 4, acabam sendo chamadas centenas de pessoas. Há muitos exemplos disso nos TRTs, TREs e TRFs.

Para encurtar a conversa, concluiremos, sem medo de errar, dizendo que informação e técnica contam, muitas vezes, muito mais que o conhecimento, desde que este atinja o mínimo para não eliminar o candidato. Quem já passou em concurso sabe do que estamos falando.


Waldir Santos é Professor, Advogado da
União e Conselheiro da OAB-BA. 


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